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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

GABRIELA CUMPRE SUA MISSÃO E TERMINA COMO UMA BOA NOVELA


Chegou ao fim o remake de "Gabriela". A nova adaptação do livro de Jorge Amado foi realizada por Walcyr Carrasco, que fez um bom trabalho e transformou "Gabriela" numa boa novela. A trama foi bem escrita e dirigida e contou com um elenco dos melhores. Uma produção impecável, também merecem elogios em "Gabriela" a belíssima fotografia e a trilha sonora cheia de músicas lindas, que combinaram perfeitamente com o clima da novela.

Apesar de criticada por alguns pelas mudanças que o autor fez na história e no perfil de alguns personagens, "Gabriela" sai do ar com média de 19 pontos, a mesma de "O Astro" (2011) e pode ser considerada uma novela de sucesso. Temos que lembrar que trata-se de uma adaptação do livro e as mudanças são necessárias em virtude das diferenças de formato entre um romance e uma novela.


Gostei muito de "Gabriela". Foi uma novela agradável de assistir do começo ao fim. As mudanças feitas por Walcyr carrasco não comprometeram a essência da obra de Jorge Amado. O autor apimentou mais a história com cenas de nudez e sexo, além de usar alguns palavrões, algo que não foi permitido na primeira versão por causa da Censura, mas que está perfeitamente de acordo com o universo de Jorge Amado, pois quem já leu alguns de seus livros, sabe que o autor usava muito erotismo e uma linguagem mais "pesada" em suas histórias. 

Walcyr Carrasco criou novos núcleos e personagens que não existem no livro, como Dona Doroteia (Laura Cardoso) e Lindinalva (Giovanna Lancellotti). Isso serviu para movimentar mais a novela, porque no livro de Jorge Amado as personagens secundárias têm muito destaque e a história não gira só em torno de Gabriela. Nessa versão Walcyr também acrescentou um personagem que está na obra de Jorge Amado, mas não fez parte da versão de 1975, por causa da Censura: Miss Pirangi (Gero Camilo), que se destacou bastante ao longo da novela.


Curiosamente alguns personagens criados por Walcyr Carrasco chegaram a  despertar mais interesse que os protagonistas Nacib (Humberto Martins) e Gabriela (Juliana Paes) em alguns momentos. A história de amor da sofrida Lindinalva com Juvenal (Marcos Pigossi), por exemplo, conquistou os telespectadores.


E o que dizer de Dona Doroteia? A maravilhosa Laura Cardoso conseguiu transformar a beata na melhor personagem da novela. Com suas fofocas, Dona Doroteia provocou muitos conflitos e movimentou muito a trama. E apesar de suas maldades, a personagem era adorada pelo público e conquistou a todos com seu bordão "Jesus, Maria, José". Apesar de se dizer tão moralista, Dona Doroteia foi quenga no passado e a revelação surpreendeu a todos, com direito a muitas cenas onde Laura Cardoso brilhou como nunca. Desprezada por toda a cidade quando souberam seu segredo, Dona Doroteia acabou sozinha, abandonada por todos. A única que ficou do seu lado foi Gabriela, a quem ela já havia desprezado tanto. A cena em que Gabriela leva comida para Dona Doroteia e diz que está do seu lado, foi uma das mais emocionantes da novela. Clique aqui para ler um post especialmente sobre Dona Doroteia.


Juliana Paes esteve ótima como Gabriela e soube transmitir com perfeição o ar ingênuo e sensual da personagem. Junto com Humberto Martins, ela brilhou em cena e o casal foi muito bem sucedido. Outros atores que se destacaram em "Gabriela" foram Antônio Fagundes (Ramiro), José Wilker (Jesuíno), Chico Diaz (Melk), Mateus Solano (Mundinho), Luísa Valdetaro (Gerusa), Maitê Proença (Sinhazinha) e Leona Cavalli (Zarolha), entre outros. 


Infelizmente devido ao grande número de personagens e à curta duração da novela, muitos atores apareceram pouco. Alguns chegaram a fazer figuração, praticamente. A história de Malvina (Vanessa Giácomo), por exemplo, apesar de ter tido muito destaque, não teve a mesma repercussão da versão de 1975 e a personagem terminou a novela meio apagada. Mas é claro que cada versão é diferente e por isso mesmo não dá para para tomar como base a versão antiga para falar desta. 


Walcyr Carrasco não se repetiu tanto como em outras novelas (não houve torta na cara nem gente jogada no chiqueiro), mas em vários momentos o autor apresentou algumas de suas marcas, como o fato de inserir comédia mesmo em cenas que precisavam ser mais sérias, como o julgamento do Coronel Jesuíno. Esse é o tipo de coisa que pode incomodar os telespectadores mais exigentes, mas ao mesmo tempo dá um pouco mais de leveza à novela. É o estilo do autor e pronto.


Apesar da boa adaptação, um ponto não foi bem explorado nesse remake: a disputa política entre Coronel Ramiro e Mundinho Falcão. Não que política seja um dos meus assuntos preferidos, mas o embate entre Mundinho e Ramiro é um dos maiores destaques do livro de Jorge Amado. No remake os dois foram inimigos durante a novela inteira, mas a briga entre eles foi mais por causa do romance de Mundinho com Gerusa do que pela política, que só se destacou mais no último capítulo, com a vitória de Mundinho nas eleições. Teria sido interessante acompanhar melhor os conflitos entre a antiga sociedade patriarcal representada pelos coronéis e as ideias modernas de igualdade defendidas por Mundinho. A novela só deixou mais a desejar nesse aspecto.

Entre erros e acertos, "Gabriela" despertou o interesse do público e sua repercussão foi muito boa. Durante 77 capítulos nos emocionamos, rimos e nos divertimos muito com essa história, que foi uma homenagem mais do que justa ao centenário do grande e inesquecível Jorge Amado. Para quem não leu o livro ainda, aconselho, pois vale muito a pena (Clique aqui para ler um post sobre o livro e o filme). Sempre vale a pena mergulhar no universo de Jorge Amado, e "Gabriela" foi ótima também por causa disso. Vai deixar saudades.



3 comentários:

  1. Excelente crítica!
    Parabéns
    com certeza deixará saudades!

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  2. Acho que o Walcyr não quis se enveredar muito no embate político entre Mundinho e Ramiro, porque estávamos vivendo em período eleitoral. Imagine, horário político, web bombando sobre PT, PSDB, Democratas e tantos outros partidos e, antes de dormir, mas confusão com Falcão e Bastos sobre conquista de votos? Gostei muito de Gabriela, sobretudo, dona Sinhazinha (Proença), Malvina (Giácomo), a trinca Glorinha (Pires), Coroliolano (Fontoura) e próféssor (Rizzi), o casal Gabriela (Paes) e Nacib (Martins) e a esquerosa dona Dorothéa (Cardoso), "Jesus, Maria, José!", aff, muito bom, deixou Carminha no chinelo, rs.

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