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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

LAURO CÉSAR MUNIZ E EQUIPE DE MÁSCARAS FAZEM BALANÇO DA NOVELA

Da esquerda para a direita: Mariana Vielmond, João Gabriel Carneiro, Lauro César Muniz, Mário Viana, Renato Modesto e Carol Agabiti

Na próxima terça-feira, 02 de outubro, será exibido o último capítulo da novela "Máscaras" na Record. Escrita por Lauro César Muniz, "Máscaras" apresentou uma história policial cheia de mistérios e tramas bem amarradas, com situações e temas pouco explorados nas novelas mais convencionais. Foi uma tentativa válida de fugir da mesmice que anda tomando conta das novelas ultimamente, apresentando uma história com situações inéditas e bem exploradas. Infelizmente a novela não atingiu o sucesso esperado e passou por alguns problemas durante sua exibição, como mudanças de horário e troca de diretor.

O autor Lauro César Muniz concedeu mais essa entrevista para o "Super TV e Mais!", onde fala dos problemas enfrentados ao longo de sua novela e faz um balanço dos resultados de "Máscaras". Ele também fala da baixa qualidade que vem tomando conta das telenovelas e de seus planos para o futuro. 

O co-autor de "Máscaras", Renato Modesto, e os colaboradores Mário Viana, Mariana Vielmond, João Gabriel Carneiro e a pesquisadora da novela, Carol Agabiti, também deram depoimentos ao blog sobre a experiência de terem feito parte da equipe de "Máscaras". Confiram a entrevista com o Lauro e os depoimentos da equipe da novela!

ENTREVISTA COM LAURO CÉSAR MUNIZ


SUPER TV E MAIS! - "Máscaras" começou com audiência baixa e você teve que fazer alguns ajustes no enredo. Mesmo assim a novela não atingiu a audiência esperada. Houve algum tipo de frustração por causa disso? Como você avalia a audiência da novela?

LAURO CÉSAR MUNIZ - Na verdade, a novela estreou com audiência baixa. Ao contrário de "Poder Paralelo" que estreou com 15%, "Máscaras" estreou com 11%. Alguma coisa já estava errada. Depois a audiência manteve-se em volta de 9% e foi caindo até 7 ou 8%. Manteve-se assim até ser transferida para às 23:15 (quase sempre depois das 23:30). Depois caiu absurdamente até 6%, 5%. É preciso considerar que neste período também caíram drasticamente as audiências de "Rebelde". Tanto "Máscaras" como "Rebelde" nunca mais reagiram. Houve um período de dificuldades na Teledramaturgia da Record que culminou com a saída de Ignácio Coqueiro e depois do Diretor de Teledramaturgia. Neste mesmo período, com exceção de "A Fazenda" toda a programação da emissora oscilou, como foi fartamente publicado pela imprensa. 

A frustração não foi apenas minha, foi geral. O Elenco chegou a emitir um documento público quando Edgard Miranda assumiu a direção da novela.

O que aconteceu? Difícil entender no primeiro momento. Hoje as coisas começam a ficar mais claras, com a nítida diferença da gestão do novo diretor de teledramaturgia. 

É muito difícil para uma novela que estreou durante uma forte crise se recuperar. Tenho uma parcela de responsabilidade em tudo isso: supervalorizei a capacidade do público acompanhar uma história policial bastante intrincada. E cometi o erro (até o capítulo 40) de abrir muitos mistérios sem os revelar por muito tempo. 40 capítulos definem a performance de uma novela. Não conheço nenhuma novela que que tenha estreado mal e se recuperado bem mais tarde.   

SUPER TV E MAIS! - Você acha que o fato de a novela ter sofrido algumas mudanças de horário pode ter dificultado a fidelização da audiência?

LAURO CÉSAR MUNIZ - O horário das 23:30 até bastante além da meia-noite é um horário especialmente complicado. Trata-se da última novela exibida, depois de mais de 10 outras, anteriores. E era a única novela que ia além da meia-noite, cotidianamente. Um horário em que a porcentagem dos aparelho ligados é muito baixa e cai verticalmente. O público desse horário já está muito cansado, prefere se envolver com um filme ou um programa leve, relaxado. "Máscaras" foi concebida para as 22:15 hs.


Os protagonistas da novela

SUPER TV E MAIS! - Antes do início de "Máscaras" você declarou que essa seria a sua última novela. É realmente a última ou você acha que pode mudar de ideia e escrever mais alguma novela no futuro?

LAURO CÉSAR MUNIZ - "Máscaras" foi minha última novela. Basta fazer as contas: entre uma novela e outra, em geral o autor espera uns 2 anos. Terminarei essa novela em outubro de 2012. Dentro de dois anos estarei com 77 anos. Já sinto que o tempo tirou de mim uma certa vitalidade. Fiz "Máscaras" com 125 capítulos e cheguei bastante cansado ao final. Se as novelas baixarem drasticamente o número de seus capítulos, como eu proponho há muitos anos (120 a 140 capítulos, apenas) poderei arriscar a fazer mais uma, com a companhia de um ótimo co-autor. A solução para que eu continue a produzir para a televisão será fazer minisséries. Já apresentei um bonito projeto à Record, onde pretendo terminar minha carreira.

Nos próximos anos vou escrever Teatro, Cinema e minisséries.

SUPER TV E MAIS! - Sempre ouvi dizer que escrever novela é um dos trabalhos mais exaustivos que existem. Quais são os seus planos para depois de "Máscaras"?

LAURO CÉSAR MUNIZ - Telenovela é o 13º trabalho que Hércules se recusou a fazer. Somos poucos que conseguimos segurar este peso. Os jovens estão aparecendo mas cometendo os erros de imitar os piores trabalhos de minha geração. Há um consenso de que é preciso baixar muito o nível porque o telespectador hoje tem um nível médio muito fraco. Isso não é verdade. O que acontece é que as próprias emissoras de televisão, abertas, anestesiaram o público com produção de baixíssima qualidade. O público hoje parece dopado por clichês que nada propõem de novo. É preciso haver um choque de boa qualidade para tirar o público desse sono eterno...

SUPER TV E MAIS! - Para terminar, qual o balanço final que você faz de "Máscaras"? Apesar dos problemas enfrentados, valeu a pena ter escrito a novela?

LAURO CÉSAR MUNIZ - Gosto do tema e da trama de "Máscaras"! Criei personagens lindas com as quais vivi muito tempo. O elenco era excelente com quatro ou cinco atores e atrizes que destoavam. Criei coisas inéditas (o casal Zezé, por exemplo) e levantei questões muito importantes como a exploração descontrolada de um minério estratégico, o Nióbio, em que o país é soberano (85% mais ou menos do Nióbio do mundo inteiro, está em território brasileiro). Denunciei o descuido dos vários governos que permitem que este elemento saia do país "a preço de banana, contrabandeado". Há muita gente ganhando muitos dólares às cutas do Nióbio, enquanto a população desconhece essa riqueza incrível. Vejam no Google o que é o Nióbio, aqui não é o espaço para que eu faça exposição do problema. Outros assuntos me fascinaram - a tentativa de atentado contra o Presidente Obama quando visitou o Rio de Janeiro em março de 2011. Fundi ficção com história.

DEPOIMENTOS DA EQUIPE DA NOVELA

RENATO MODESTO - Co-autor: " Máscaras foi um desafio para mim. Um aprendizado difícil, mas precioso. Nos treze anos em que trabalhei na Rede Globo, escrevi com o grande autor Walther Negrão novelas das 18 horas. Eram tramas leves e divertidas, voltadas para todas as faixas etárias. Neste meu primeiro trabalho na Rede Record, tive que me adaptar às características de uma novela mais adulta, exibida em horário avançado, com temas fortes e polêmicos.
A novela passou por diversos problemas de produção, uma troca de diretor, doenças no elenco e mudanças constantes de horário, Mas tais dificuldades acabaram se tornando estímulo para que seguíssemos mantendo um alto grau de exigência quanto à qualidade do texto. 
Lauro César Muniz já era um modelo de competência para mim e essa admiração aumentou anda mais. Lauro é um autor que não suporta acomodação e obviedades. É um inimigo do lugar-comum, um destruidor de clichês, um roteirista que tem a coragem de ver a novela não como  produto ou mero entretenimento, mas como arte. 
Serei sempre grato a ele por tudo o que aprendi e cresci. Espero que ele continue presenteando a  todos nós com seu talento e idealismo ainda por muitos e muitos anos."

MÁRIO VIANA - Colaborador: "Fazer sucesso é muito bom e é claro que nós queríamos ter registrado números bem maiores no Ibope, mas a resistência à novela em nenhum momento nos enfraqueceu. Em instante algum, a emissora nos pediu pra 'baixar o nível' de uma história cheia de entrelaçamentos pouco convencionais nas novelas. E, principalmente, em momento algum o Lauro César Muniz admitiu que diálogos, tramas e abordagens resvalassem no simplório. A exigência continuou alta do primeiro ao último dia. Só isso já é um aprendizado. Enfrentar dificuldades sem ceder, sem adulterar o próprio trabalho. Houve também um encontro muito bom com diversos atores do elenco, que vestiram a camisa da novela e arregaçaram as mangas junto com a equipe de autores e os diretores - tanto o Ignácio quanto o Edgard. Termino a novela de cabeça erguida e certo de ter feito um trabalho de excelente nível, de muita qualidade e em ótima companhia".

MARIANA VIELMOND - Colaboradora: "Sei que depois de trabalhar com o Lauro vou sempre voltar a esse marco. Tudo que eu escrever a partir desse ponto já não será como antes. O Lauro é um autor que se dedica ao ofício com paixão e generosidade. Com entrega absoluta, sem receio de abrir seus métodos, sua busca, suas crenças, seu conhecimento. O Lauro se oferece inteiramente para a troca, não apenas de técnica, mas também de impressões e afeto.  Para este trabalho reuniu uma equipe com essa mesma disposição de partilha, o que resultou para mim num aprendizado sem tamanho, porque eram todos tão diferentes. Sou grata a cada um dos meus parceiros nessa jornada. Autores e personagens. Sei que ainda vou seguir por muito tempo dialogando com essas criações dentro de mim. "

JOÃO GABRIEL CARNEIRO - Colaborador: "Máscaras é uma novela rara, inovadora, sofisticada. Ao mesmo tempo, muito sensível e poética, em contraste com uma história policial violenta. As personagens, em geral, não são o que parecem ao primeiro olhar. Todas repletas de contradições. Seres humanos, com defeitos e qualidades. Suas 'máscaras' vão caindo e a história vai se revelando, aos poucos, como um quebra-cabeças. Um prato cheio para a interpretação dos atores, e um convite à reflexão do telespectador. Profundos dramas psicológicos geram constantes viradas na história. E cada trama pessoal faz parte desse contexto maior, no qual todas estão inseridas: uma grande conspiração internacional. A novela fala sobre o Brasil de hoje, seu contexto econômico no mundo. Tem forte cunho político. Por esses e outros motivos, foi um enorme prazer fazer parte dessa equipe e trabalhar com tantos talentos, dispostos a dar o máximo pela obra. Arte genuína. Um grande orgulho que vou levar comigo para sempre. Só tenho a agradecer."


CAROL AGABITI - Pesquisadora: "A primeira novela que vi do Lauro foi O Salvador da Pátria. Eu era criança e ficava encantada com o Sassá Mutema... 
A primeira vez que eu vi o autor em carne e osso foi numa palestra sobre Teledramaturgia. Até hoje lembro o que ele ensinou naquele dia. 
Trabalhar com o Lauro em Máscaras foi mais do que um prazer... Foi um grande aprendizado. Porque assim como suas obras deixam marcas, é impossível você se relacionar com ele sem se transformar.
Fazer pesquisa para telenovela é um desafio. Você tem que tirar todas as dúvidas dos roteiristas e deve esmiuçar os temas que serão abordados pelas tramas. Basicamente, você tem que ser capaz de responder perguntas sobre qualquer assunto. Por exemplo: O que acontece com alguém que leva um golpe de injeção no pescoço? Por que o Brasil está vendendo tão barato o Nióbio? O que o Obama fez durante sua viagem ao Brasil? E por aí vai... 
Lauro leva a pesquisa muito a sério e respeita o trabalho de seus pesquisadores profundamente. Muitas vezes, ele reescreveu cenas inteiras porque a pesquisa apontava para um caminho diferente do que ele tinha ido. Lauro é um autor realista que respeita a inteligência do público e gosta que suas obras estejam embasadas na realidade. Ele acredita que a telenovela, além de entreter, é capaz de informar e também de estimular o telespectador a pensar! 
Agradeço aqui o Lauro pelo convite! Um beijo para o Renato, o Mário, a Mariana e o João, roteiristas super talentosos que estiveram comigo nesse processo. Obrigada também a todos que me ajudaram a responder as dúvidas da novela: Érica, Renato, Cadu, Lombardi, Thiago, Alessandra, Cristiane, Maira, Esther, Horácio, Ronaldo e Adriano."


Agradeço ao Lauro pela gentileza de conceder mais essa entrevista ao blog e a toda a equipe de roteiristas da novela pelos ótimos depoimentos! Muito obrigado a todos e boa sorte nos próximos projetos de cada um!

Fiquem de olho nos capítulos finais de "Máscaras"!



4 comentários:

  1. Passei por aqui porque tudo que se refere ao Lauro me desperta interesse, sou fã do autor, admiro as suas obras. Máscaras não foi bem sucedida, mas cumpriu seu papel de bom produto de teledramaturgia.

    Parabéns pela entrevista, Leandro.

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    1. Também admiro bastante o Lauro, Isaac. Gosto da sinceridade absoluta com que ele responde a todas as entrevistas e também do fato de ele não desistir de fazer suas novelas do jeito que acredita só para agradar a audiência. Lauro é muito preocupado em oferecer sempre algo de diferente para o público, em não deixar suas novelas serem dominadas por clichês. Máscaras pode não ter sido bem sucedida em audiência, mas em nenhum momento ele mudou a essência de sua história por causa disso. Lauro merece sempre a nossa admiração e sua contribuição para a história da TV brasileira é imensa.

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  2. Muito mais muito boa a entrevista e mais os depoimentos!!
    Adoro Lauro e Mário!
    Dois caras geniais!

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    1. Lauro é mesmo um grande autor. Sempre gostei de ler entrevistas com ele, pois acho suas respostas muito completas. Ele responde sempre o que queremos saber com muita sinceridade e também humildade, ao reconhecer os erros que ele próprio cometeu. Também gostei muito dos depoimentos da equipe de colaboradores. Lendo esses depoimentos podemos perceber o quanto todos permaneceram unidos diante dos problemas enfrentados pela novela, o quanto a experiência foi válida para cada um deles e o quanto aprenderam com o mestre Lauro César Muniz.

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