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segunda-feira, 30 de abril de 2012

ENTREVISTA: ALCIDES NOGUEIRA - 2ª PARTE (FINAL)


Hoje dou continuidade ao bate-papo com o grande autor Alcides Nogueira. Nessa segunda e última parte da entrevista, ele fala sobre sua última novela, "O Astro", elege seus trabalhos preferidos e também conta um pouco de seus próximos projetos na televisão e no teatro. Espero que gostem e quero aproveitar para agradecer ao Alcides pela  gentileza de me dar essa entrevista. Ele foi muito simpático desde o início e aceitou na hora responder a todas as perguntas. Adorei fazer a entrevista e espero que todos os telemaníacos tenham gostado. Muito obrigado, Alcides! Desejo muito sucesso para você nos seus próximos trabalhos!

 Leiam a última parte da entrevista:

SUPER TV E MAIS! - Como você se sentiu ao receber o convite para escrever a nova versão de "O Astro", um clássico de Janete Clair, que inaugurou o horário das 23 horas?

ALCIDES -  Foi um presente que o Roberto Talma deu ao Geraldo Carneiro e a mim. Sempre quis trabalhar com Talma, que é uma das pessoas que fazem a diferença em nossa televisão. Já tinha sido parceiro de Geraldo (foto à esquerda), quando fizemos, com Maria Adelaide Amaral, o "JK". Geraldo e eu trafegamos por universos muito parecidos. Fora ser uma pessoa maravilhosa. É um privilégio estar com ele. Nós dois contamos com a colaboração preciosa de Tarcísio Lara Puiati e Vitor Oliveira (foto à direita), dois jovens autores de muito talento. A direção-geral foi do Mauro Mendonça Filho, com quem já tinha trabalhado em "Força de um Desejo". Estava tudo em família. Fora o elenco, de primeiríssima qualidade. Nem vou citar nomes, com medo de omissões, o que seria muito desagradável. Mas foi um dream-team! E o mais importante: nós estávamos fazendo uma nova leitura de uma das mais emblemáticas novelas de Janete. Foi um desafio... mas instigante. E eu gosto disso!


SUPER TV E MAIS! - Foi difícil resumir os 185 capítulos da novela original a apenas 64, ou isso acabou ajudando, já que deu uma agilidade maior à novela? Você precisou fazer muitas mudanças na história?

ALCIDES - Nada é fácil na teledramaturgia. A Globo, desde o início, deu toda a liberdade para que Geraldo e eu mexêssemos na história. E nós mexemos pra valer! Conservamos os pilares da história da Janete e modificamos personagens e tramas, para que a história não ficasse anacrônica. E, sem dúvida, os 64 capítulos ajudaram - muito - a agilizar a trama, eliminando as gorduras. Fiquei muito feliz quando Daniel Filho, nosso Salomão, e que foi o diretor da versão original, afirmou que gostava muito da nova leitura. Um aval valioso! 

SUPER TV E MAIS! - Você gostou de escrever para o horário das 11? Acha que esse horário veio para ficar?

ALCIDES - Gostei muito. O autor se sente muito mais livre para abordar temas polêmicos... e até para criar os diálogos. Espero que o horário tenha vindo para ficar. Todo mundo ganha com isso: autores, espectadores, elenco... Há mais espaço para a experimentação, para interpretações densas... Enfim, é o resgate de uma teledramaturgia mais ousada (no bom sentido).

Francisco Cuoco e Rodrigo Lombardi: os dois Herculanos Quintanilha.


SUPER TV E MAIS! - Elisabeth Savalla, que fez a Lili na primeira versão de "O Astro", disse em uma entrevista que acha o horário das 23 horas muito tarde para uma novela, pois várias pessoas que trabalham precisam dormir mais cedo e não podem assistir. Eu mesmo, que acompanhei "O Astro" do começo ao fim, confesso que foi difícil assistir a alguns capítulos por começarem muito tarde, principalmente os das quartas-feiras, que iam ao ar perto de meia-noite por causa do futebol. Você acha que a repercussão da novela teria sido ainda maior se ela tivesse sido exibida mais cedo, por exemplo depois da novela das nove?

ALCIDES - Sem dúvida alguma, o horário, nesse ponto, não é muito confortável. Ouvi muitos comentários como o da Savala e o seu. Mas a que horas entraria esse novo produto teledramatúrgico? Depois da novela das 21 não seria muito bom, pois haveria uma verdadeira overdose novelística (rsrsrs). O problema é mais simples: se a novela das 23 entrasse REALMENTE às 23, a situação seria outra. O problema é que, cada dia, entra em um horário... Principalmente quando há futebol. Ainda bem que não pegamos o BBB (como aconteceu com "Um Só Coração" e "JK"... Aí é triste). Futebol segura audiência, mas reality show é mais complicado. Eu nem assisto. Não gosto. 

Elisabeth Savalla, a Lili de 1977, e Alinne Moraes, a Lili de 2011.

SUPER TV E MAIS! - Todo autor quer que seu trabalho faça sucesso. Você se preocupa muito com o IBOPE? É do tipo que faz muitas mudanças nas histórias de acordo com a audiência?

ALCIDES - Sem dúvida todo autor quer que seu trabalho faça sucesso, seja reconhecido, comentado, tenha uma grande audiência... Eu me preocupo, sim, com audiência. Mas hoje essa questão tem de ser pensada de outra maneira. A medição não pode ser mais a tradicional. Outras mídias surgiram ocupando muito espaço, e há a internet. Eu gosto de ver minhas novelas em tempo real, como espectador. Mas, às vezes, não dá. É preciso terminar um capítulo, resolver uma situação... Então, gravo, ou vejo na internet. Com quantas pessoas isso não acontece? Principalmente em horários como o das 18 (está cada vez mais difícil chegar em casa nessa hora, por causa do trânsito caótico) ou o das 23 (por ser tardio). Então, os institutos precisam buscar outros parâmetros de mediação. Fora isso, o país mudou muito. Houve uma grande inclusão social (ainda bem!). Se, por um lado, tudo isso é claro na minha cabeça, por outro eu fico meio sem saber que tipo de mudança deve ser feita. Voltando ao início da pergunta: se quero o sucesso, preciso que o espectador se interesse pela trama. Como? Não é fácil, não.

SUPER TV E MAIS! -  De todos os seus trabalhos na televisão, você consegue escolher um preferido?

ALCIDES - Aqui entra a velha história de que todos os filhos são amados. Mas gosto, particularmente, de "Força de um Desejo", "Ciranda de Pedra" e "Um Só Coração". Pode parecer estranho eu não citar "O Astro". É que ainda não houve tempo para a depuração. Mas, com certeza, entrará para os meus trabalhos preferidos.

SUPER TV E MAIS! - Com quais atores e atrizes você tem vontade de trabalhar em alguma novela e ainda não teve a chance?

ALCIDES - Trabalhei com atrizes e atores maravilhosos, alguns nem tão conhecidos do grande público! Sou um autor privilegiado. Eu gostaria, isso sim, de repetir algumas parcerias. Não vou citar nomes, pois posso cometer alguma omissão, e seria leviano e deselegante.

SUPER TV E MAIS! - Você vê muita televisão? O que mais gosta de assistir? E o que te faz passar longe da TV?

ALCIDES - Assisto a poucos programas. Sempre foi assim. Mas vejo, sempre que posso, as telenovelas que estão no ar. É importante um autor estar por dentro do que acontece na teledramaturgia. Vejo algumas séries e minisséries e telejornais. Gosto muito das séries americanas (nem todas, mas fiquei viciado em "Mad Men", por exemplo). Eu fujo de programas sensacionalistas, de alguns talk-shows de quinta categoria e de programas religiosos. E dos realities. Eu era um espectador fiel da TV Cultura de São Paulo. Infelizmente ela foi sucateada pelo governo do estado e se tornou um ninho tucano. Deixei de ver.

Alcides é viciado na série "Mad Men".


SUPER TV E MAIS! Antes de "O Astro", você apresentou a sinopse de uma novela para o horário das 18 horas. Essa novela será produzida? Se sim, quando poderemos assisti-la?

ALCIDES - Quando surgiu o convite para "O Astro", a sinopse foi para segundo plano. É uma história minha e do Mario Teixeira. Está sendo remodelada, porque muita coisa que tínhamos em mente já surgiu em outras produções (a TV é muito ágil). Espero que venha a ser produzida. O Mario é um grande parceiro e um autor maravilhoso! Se aprovada, provavelmente só irá para o ar em 2013.

SUPER TV E MAIS! - Enquanto você não volta a televisão, há algum novo projeto no teatro?

ALCIDES -  Eu não fico parado. Além da sinopse com o Mario Teixeira, penso em uma outra, para minissérie... e também em apresentar um projeto para o horário das 23 (afinal, sou um dos pais dele, rsrsrsrs). Quanto ao teatro, ando meio de mal com a cena brasileira. Há muita gente boa surgindo. Novos autores, atores/atrizes, diretores... Mas o teatro, em si, continua sendo o primo pobre da cultura brasileira. Essa política de viver com o pires na mão deprime qualquer um. Mesmo assim, o palco me fascina, me chama, e, mesmo me massacrando, é o meu lugar no mundo. Há mais de vinte anos venho gestando uma peça. Talvez saia da cabeça e seja encenada... A ver!

Ana Paula Arósio em "Um Só Coração", um dos trabalhos preferidos de Alcides Nogueira.

SUPER TV E MAIS! - Para terminar, te agradeço muito pela entrevista! Deixe sua mensagem para os leitores do blog!

ALCIDES - Eu é que agradeço. Fiquei muito feliz com essa "conversa", que me provocou tantas lembranças... É sempre muito bom falar de nosso ofício, principalmente quando as perguntas são inteligentes e sensíveis. Seu blog cumpre um papel importantíssimo. A mídia impressa perdeu muito da sua importância. Muito melhor dialogar com blogueiros... pois os internautas estão sempre antenados. Espero ter contribuído, mesmo modestamente, para que a teledramaturgia continue sempre viva e interessante. Beijos!



Um comentário:

  1. Alcides sempre contribui, um cara educado, sensato e ótimo profissional. Parabéns pela entrevista!
    Lucas - www.cascudeando.zip.net

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