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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

ÁGUA VIVA: UMA DELICIOSA VIAGEM AOS ANOS 1980


Assistir "Água Viva", atual reprise da faixa da meia-noite do Canal Viva, é voltar no tempo. Voltar para 1980, época em que tudo era muito diferente do que é hoje: a moda, a tecnologia, a linguagem, os costumes e a própria estrutura da telenovela.

"Água Viva" é de uma época em que a novela das oito realmente começava às oito (hoje virou novela das nove). Em 1980 o Brasil ainda vivia sob o regime militar, ainda havia Censura e a nossa moeda era o cruzeiro, ou seja, a novela faz parte de um momento histórico muito diferente do que vivemos atualmente. Só isso já é um atrativo para as novas gerações e para os saudosistas que acompanharam a primeira exibição da trama. 

Sueli (Ângela Leal) faz o possível para que Nelson (Reginaldo Faria) reconheça Maria Helena (Isabela Garcia) como filha

Em sua segunda história para o horário das oito, Gilberto Braga enfrentava dois desafios: substituir uma novela que foi ruim de audiência ("Os Gigantes", de Lauro César Muniz) e repetir o sucesso do fenômeno "Dancin' Days" (1978), sua novela anterior. Gilberto criou uma história com todos os ingredientes para fisgar o grande público. 

"Água Viva" é uma novela solar, com uma pegada moderna para 1980, usando tudo o que estava em evidência na época: o topless, o windsurf, a discussão sobre a mulher moderna e independente, entre outros temas. É um registro perfeito de como as coisas eram há mais de trinta anos atrás e isso aumenta ainda mais a sua importância. 


Unindo o melhor dos folhetins a uma trilha sonora espetacular e um tom sofisticado e realista que Gilberto Braga sabe imprimir como ninguém a suas histórias, "Água Viva" foi mais um grande sucesso do autor e serviu para consolidar seu nome definitivamente como um dos maiores novelistas de nossa teledramaturgia. Gilberto ainda contou com a colaboração mais do que luxuosa de Manoel Carlos. Não precisa dizer mais nada: com esses dois juntos, só poderia sair mesmo uma ótima novela.

Os telespectadores de hoje, acostumados a tramas mais ágeis e cheias de ação, certamente estranharão bastante a estrutura de "Água Viva": uma história de ritmo tranquilo, lento mesmo, com cenas longuíssimas. Só para dar um exemplo, no capítulo 3 há uma cena de mais ou menos 12 minutos de duração entre os personagens Marcos (Fábio Júnior) e Lourdes (Beatriz Segall). Cenas como essa, que seriam consideradas uma enrolação nas novelas de hoje em dia, eram normais na época e representavam o ritmo natural das telenovelas daquele tempo.

Lígia (Betty Faria) foi disputada pelos irmãos Nelson (Reginaldo Faria) e Miguel (Raul Cortez)

A novela tem a cara dos anos 80 em todos os aspectos e com seu ritmo lento demais, talvez seria um fracasso se fosse feita nos dias de hoje, mas esse ritmo lento é o maior charme de "Água Viva". As cenas eram melhor exploradas, a densidade dos personagens ficava mais evidente, as situações eram mais bem trabalhadas, sem a preocupação de tornar tudo ágil demais a ponto de às vezes nem entendermos direito o que estamos vendo, ou seja, tudo era mais natural. 

Não estou criticando o ritmo das telenovelas atuais, pois tudo muda ao longo do tempo e com elas não seria diferente. Na época cibernética em que vivemos, as novelas precisaram acompanhar o ritmo ágil das comunicações do mundo globalizado para sobreviver, mas obras como "Água Viva" são atemporais e sempre serão exemplos de boas novelas, independente do ritmo que tenham.

O elenco da novela dispensa comentários. Betty Faria está magnífica como a ambiciosa Lígia. Ângela Leal também dá um show de interpretação como a determinada Sueli. Suas cenas com a linda orfã Maria Helena (brilhantemente interpretada por uma Isabela Garcia ainda criança) são emocionantes. Reginaldo Faria (Nelson), Raul Cortez (Miguel), Lucélia Santos (Janete), Tônia Carrero (Stela) e Beatriz Segall (Lourdes) são os outros destaques do elenco, só para citar alguns.



Também é muito bom ver atores como Gloria Pires (Sandra), Isabela Garcia (Maria Helena), Fábio Júnior (Marcos), Kadu Moliterno (Bruno) e Maria Padilha (Beth), entre outros, novinhos, ainda em início de carreira. Além disso, podemos matar as saudades de atores que estão afastados do vídeo, como Heloísa Mafalda (Irene), Tetê Medina (Luci) e Tamara Taxman (Selma), três excelentes atrizes.


Abertura de "Água Viva"


Enfim, ficar acordado até mais tarde para assistir "Água Viva" todos os dias vale muito a pena. A reprise da novela já é um sucesso. Aliás, todas as novelas exibidas no Viva atualmente (além de "Água Viva" tem "Anjo Mau" e "A Próxima Vítima") são excelentes! 

Torço para que o canal continue apostando em sucessos da década de 1980 e que isso abra caminho para tramas da década de 1970 também. Quanto mais antiga, melhor!



3 comentários:

  1. Ótimo texto, só discordei sobre as cenas longas em água Viva serem vistas pelo público de hoje como enrolação. Há uma diferença, naquela época havia texto e ele fazia o público refletir sobre o assunto abordado. Hoje há muitos temas polêmicos compondo uma novela, mas geralmente são abordados de maneira rasa, podendo até gerar confusão, como é o caso da Perséfone, em Amor à Vida. Vítima de preconceito por dois motivos: virgindade e obesidade, ela está sempre flertando coma comédia, o que acaba desviando o foco de um público menos atento...

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    1. Você me entendeu mal. Não disse que o público de hoje considera uma enrolação as cenas longas de Água Viva, até porque como expliquei no texto, esse era o ritmo normal das novelas da época. O que eu quis dizer é que as novelas produzidas atualmente não têm cenas longas como essas, pois com o controle remoto o público ficou cada vez mais impaciente, o que exige que as tramas de hoje tenham cenas mais curtas e um ritmo mais ágil para segurar o telespectador.

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    2. Eu entendi, mas escrevi errado. Eu considero, pelo que ando lendo, que o público mais jovem vê como enrolação essas cenas e disso eu discordo, não do que foi escrito. O que eu notei, observando Água Viva é que não há repetições exaustivas de situações, recursos utilizados hoje em dia, especialmente em núcleos de humor. Em Amor à vida, acontece muita coisa em um capítulo, mas se a gente for analisar: Félix fazendo piadas, Valdirene caçando milionários (ou se recusando a comer cachorro quente). Perséfone tentando perder a virgindade (coisa recentemente conquistada), são as mesmas situações que se repetem e a gente só se dá conta quando chega um momento de exaustão.

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