Nossa entrevistada de hoje no blog é como ela mesma se define em seu perfil no twitter, essencialmente escritora. Com certeza você não acha o sobrenome dela estranho e nem podia, pois Renata Dias Gomes é neta dos maiores autores de novelas que nosso país já teve, os grandes Dias Gomes e Janete Clair. Com esses dois grandes exemplos na família, era natural que Renata sentisse desde cedo que acabaria seguindo os passos de seus avós e fosse escrever para a televisão. Nessa entrevista bastante completa, Renata, que atualmente é colaboradora de "Malhação", fala sobre carreira, família, do sonho de escrever suas próprias histórias, e é claro, da influência que recebeu dos avós. Ela também dá conselhos para quem sonha seguir a mesma carreira e virar roteirista na televisão. Confira a entrevista:
SUPER TV E MAIS! - Quando você sentiu que queria escrever para a televisão?
RENATA - Isso veio naturalmente. Não consigo lembrar um marco pra essa decisão. Eu sempre fui noveleira, sempre gostei de contar histórias e acho que sempre entendi que o caminho era esse, até por ter dois grandes exemplos dentro de casa.
SUPER TV E MAIS! - Você sempre teve o apoio da sua família na escolha da sua carreira?
RENATA - Como eu disse, sempre achei que escrever e escrever novelas era o meu caminho natural. Desde muito pequena sabia que seria escritora. Fui crescendo e a vontade se manteve. Meu pai sempre me apoiou, mostrava meus textos pro meu avô e da parte deles isso nunca foi questionado. Minha tia Denise que também é escritora, sempre me incentivou dando excelentes livros de presente. Acho que era meio subentendido na família que eu seria escritora. Mas fiz outras coisas durante a adolescência. Nesse período investi tempo e muita dedicação no vôlei. Fui federada, amava jogar e durante anos foi das coisas mais importantes da minha vida. Sou muito baixinha, sempre soube que aquilo tinha um prazo de validade curto (ganhei ainda um tempo no vôlei depois da criação da regra do líbero) e me joguei de cabeça enquanto dava porque sabia que aquilo um dia acabaria e eu iria escrever minhas histórias. Na hora de escolher a faculdade decidi que faria cinema porque queria ser roteirista. Nessa hora minha mãe foi muito contra. Entendia que eu devia fazer jornalismo pra ter uma profissão (como se escritor não fosse rs ) ou educação física porque eu gostava muito de vôlei e a essa altura era também viciada em musculação que continuo praticando com afinco até hoje. Adoro educação física , mas não era minha praia. E nem jornalismo. Discutimos seriamente, mas meu pai peitou a briga e foi comigo fazer a matrícula na faculdade de cinema. Hoje meu pai é meu maior incentivador. Ele sempre acreditou em mim e continua torcendo!
SUPER TV E MAIS! - Você fez faculdade de cinema e roteirizou alguns curtas. Fale um pouco da sua carreira desde que começou no cinema até chegar na televisão.
RENATA - Eu escrevi peças amadoras na escola, depois na faculdade de cinema escrevi alguns curtas. Alguns poucos filmados, outros vários que não saíram do papel. Um desses roteiros que não saiu do papel foi lido pelo Gilberto Braga que teceu críticas importantes e elogios que me deram muita força. Ele me indicou também pra oficina de autores da Globo. A oficina demorou um tempo pra acontecer e quando finalmente rolou eu não passei no teste. Hoje acho que foi bom porque eu tinha uma bebê de quatro meses em casa que mamava exclusivamente ao seio e pude ficar mais tempo me dedicando só a isso. Então mandei currículo pra literalmente todas as produtoras do Rio de Janeiro e duas me responderam. Comecei a trabalhar escrevendo vídeos corporativos . Um tempo depois uma outra produtora pra onde tinha mandado currículo me chamou pra escrever um programa de dramaturgia com conteúdo educativo pra TV Escola. Fiquei um tempo trabalhando nesse programa e quando acabou consegui através da Gloria Perez uma bolsa pra fazer a maratona de roteiros da Associação dos Roteiristas. Lá eu conheci o Tiago Santiago que topou ler um roteiro meu (mais um daqueles curtas que não foi filmado), gostou muito e me levou pra Record onde comecei em "Alta Estação" colaborando com a Margareth Boury.
"Alta Estação", "Chamas da Vida" e "Uma Rosa Com Amor": primeiras novelas onde Renata trabalhou como colaboradora.
SUPER TV E MAIS! - Muitas pessoas acham que uma novela é feita apenas pelo autor principal e esquecem dos colaboradores. Você pode descrever como é o trabalho de um colaborador?
RENATA - É normal esquecer do trabalho dos colaboradores e acho que a gente está ali pra isso mesmo, servir ao autor titular pra que ele possa criar e levar a novela da forma mais tranquila possível. O trabalho do colaborador varia bastante de acordo com o estilo e as necessidades do titular. Geralmente o titular faz a escaleta que é um esqueleto do capítulo com tudo que vai acontecer cena a cena, mas ainda sem diálogo e manda pros colaboradores com indicacão de quem deve escrever cada cena. Nós escrevemos, enviamos de volta pro autor que corrige pra deixar com a cara dele. Um bom colaborador vai pegar o estilo do autor e escrever dentro do que ele espera pra que tenha menos trabalho nessas correções. Mas já fiz várias outras funções de acordo com a necessidade do autor. Aprendi muito no período que ia diariamente à casa da Margareth acompanhar ela e o Claudio Simões na feitura da escaleta. Ali nasce a estrutra do capítulo e o corpo da novela. Já com o Tiago, principalmente em "Uma Rosa com Amor", acumulei várias funções. Ele me passava várias tarefas pra que estivesse sempre pronto pra escrever o próximo capítulo sem precisar voltar pra corrigir problemas de continuidade ou produção. Eu lia também os (maravilhosos) originais do Vicente Sesso para ajudar o Tiago a trilhar o caminho que a novela deveria seguir. Foi uma experiência incrível!
SUPER TV E MAIS! - Depois de passar pela Record e pelo SBT, você acaba de ser contratada pela Globo para a equipe de "Malhação". Como foi o convite para ir para a Globo?
RENATA - Assim que meu contrato com SBT foi rescindido entrei em contato com alguns autores que conhecia, entre eles a Ingrid Zavarezzi que é a atual titular da "Malhação" e com quem já havia trabalhado na Record. A Ingrid me ligou alguns dias depois perguntando se já tinha fechado com alguém porque ela gostaria de contar comigo pra colaborar na "Malhação". Ao mesmo tempo , a minha fada madrinha Gloria Perez leu meu trabalho e indicou para várias pessoas dentro da Globo e isso ajudou pra que a contratação se concretizasse.
SUPER TV E MAIS! - A audiência da atual temporada de "Malhação" está abaixo da esperada. Muitos acham que depois de mais de 15 anos, não há mais como reinventar a novelinha, pois já foi feito de tudo um pouco. Agora com a sua entrada na equipe estão previstas mudanças na história? Você acha que "Malhação" ainda tem fôlego para várias temporadas?
Antes de entrar para "Malhação", Renata colaborou em "Amor e Revolução" no SBT.
SUPER TV E MAIS! - O sonho de todo colaborador é criar suas próprias histórias. Você já se sente preparada para escrever uma novela sua?
RENATA - Acho que nunca vou me sentir completamente pronta antes de testar. Sonho com isso, mas enquanto a chance não vem, me preparo cada vez mais pra assumir essa responsabilidade. Estou tranquila nessa espera.
SUPER TV E MAIS! - O fato de você ser neta de Janete Clair e Dias Gomes faz você sentir uma responsabilidade ainda maior com o seu trabalho? Tem medo que a cobrança do público com você seja maior por causa disso?
RENATA - Sou muito exigente comigo mesma, me cobro muito mais do que qualquer outra pessoa. Mas da parte do público nunca senti cobrança, só carinho!
SUPER TV E MAIS! - A maioria das novelas de Janete Clair e Dias Gomes foram exibidas na década de 1970, quando você nem era nascida. Você tem material gravado em vídeo das novelas de seus avós? Costuma ver alguma coisa no You Tube?
RENATA - Eu assisti pouco da obra dos meus avós. Quando tinha uns treze anos boa parte dos textos da minha avó foi parar na minha casa e me deliciei lendo os capítulos de várias obras famosas. Já do meu avô, optei por esperar mais um pouco pra conhecer o trabalho pra não me permitir influenciar (lembram que eu disse que me cobro demais? rs). Quando criança assisti no teatro as suas peças e o contato com a obra do meu avô vinha daí. Preferi sempre ter contato com meu avô e não com o escritor. Esse encontro com o escritor Dias Gomes, o mito, foi acontecer na verdade um pouco antes da sua morte quando foram adotados no meu colégio dois livros dele. Foi uma delícia conhecer o outro lado do avô que eu amava. Depois que ele morreu li mais algumas peças e me apaixonei por tudo.
Renata e os avós Dias Gomes e Janete Clair.
SUPER TV E MAIS! - Lí em uma edição da Revista "Veja" de 1983, que Janete Clair, quando estava com uma novela no ar, escrevia um capítulo todos os dias e no resto do tempo era uma dona de casa como outra qualquer. Quando está escrevendo novela é difícil conciliar os afazeres do dia-a-dia com o trabalho ou você lida bem com isso?
RENATA - Nesse ponto minha avó é minha maior fonte de inspiração. Tenho dois filhos pequenos e sou colaboradora. Quando acho que vou surtar, repito pra mim um mantra : minha vó tinha três e escrevia sozinha! Não é fácil. Mas não abriria mão de trabalhar em casa e passar o dia ao lado deles. Já como dona de casa, sou uma negação e a sorte é que meu marido é o oposto! Não daria conta sem ele.
SUPER TV E MAIS! - Muitas pessoas consideram as novelas antigas melhores do que as atuais. Você concorda com isso ou acha que não houve desgaste nas telenovelas ao longo dos anos?
RENATA - Acho que há um certo saudosismo quando pensamos nas novelas que marcaram nossa vida. Tenho certeza que daqui a uns anos muita gente vai falar das atuais com o mesmo entusiasmo. Isso faz parte da história da humanidade. Depois que o tempo passa, ficamos com as lembranças boas de cada tempo. Apesar disso, é fácil notar que grandes nomes já se foram. Dias Gomes, Janete Clair, Ivani Ribeiro, Cassiano Gabus Mendes fazem mesmo muita falta! Mas acho que o gênero está se renovando aos poucos. Há sempre boas histórias a serem contadas. Eu penso numa novela como "Cordel Encantado" e tenho certeza que marcou a vida de muita gente. E outras também. As novelas continuam sendo discutidas, comentadas nas ruas.
SUPER TV E MAIS! - Que novelas você acompanha atualmente e qual é a sua preferida no momento?
"Cordel Encantado" e "Poder Paralelo": novelas citadas por Renata.
SUPER TV E MAIS! - Como você define o seu estilo de escrever novelas? Você escreve melhor drama, comédia ou tem facilidade de se adequar a qualquer gênero?
RENATA - Não sei dizer isso ainda porque como colaboradora me adapto ao estilo do autor titular. Gosto de escrever comédia, mas não só isso. Tenho uma certa dificuldade em criar histórias de amor... E adoro tramas políticas e sociais. Mas só vou saber exatamente qual a minha praia quando der a cara pra bater.
SUPER TV E MAIS! - O que você aconselha para quem sonha escrever para a televisão?
RENATA - Estudar muito, ler muito, escrever roteiros e não sinopses de novelas, procurar o mercado de produtoras ou escrever pra teatro que é a base de tudo, fazer cursos para conhecer gente do meio e trocar figurinhas com quem está na ativa. Acho que o grande lance é estar preparado pra quando chegar a oportunidade de ser lido que é o mais difícil.
Agradeço à Renata pela ótima entrevista! Fiz também com ela um jogo de perguntas e respostas rápidas, mas como essa entrevista já ficou muito longa, publicarei a segunda parte em outra oportunidade, talvez na próxima semana.
Gostaram da entrevista? Deixem seus comentários e aguardem a próxima entrevista do blog.
Muito boa a entrevista. Renata mostra que vem se preparando cada dia mais. Muita sorte para ela e que sejamos surpreendidos com (mais) ótimos trabalhos da neta dos autores mais talentosos que o país já teve: Dias Gomes e Janete Clair.
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