A cada dia que passa acho a atual classificação indicativa dos programas de televisão mais parecida com uma nova Censura. Não vivenciei a época da Censura das décadas de 1960 e 70, mas sei que foi terrível para o teatro, TV, cinema, música e todas as formas de arte. Ninguém tinha liberdade de expressar suas opiniões sobre as coisas. É claro que a classificação atual está longe de ser como a censura antiga, mas ela é preocupante porque a cada dia, se torna mais rígida e interfere cada vez mais na programação das emissoras. Essa classificação indicativa atual existe há muito tempo, mas as novas regras que a deixaram mais rígida são de 2007.
As emissoras de TV são obrigadas a cumprir as regras, que estabelecem em que horário deve ser exibido cada programa. As classificações Livre e Não recomendada para menores de 10 anos, podem ser exibidas em qualquer horário, enquanto programas recomendados para maiores de 12 anos em diante, tem horas específicas para serem exibidos e não podem mudar de horário. É isso que eu vejo como uma espécie de censura velada, porque interfere na liberdade das emissoras.
Tomando as novelas como exemplo, vejo que as possibilidades de criação principalmente das novelas das seis e das sete, que são exibidas mais cedo, estão cada vez mais limitadas, porque qualquer "deslize", pode significar uma reclassificação do Ministério da Justiça e dependendo da nova classificação que a obra receber, a emissora pode ser obrigada a mudá-la de horário. As novelas das seis vem sofrendo alterações de classificação indicativa, desde "Cama de Gato" (2009). Todas começam com classificação livre e realmente são novelas muito leves que não tem nada demais, mas depois de alguns capítulos, a classificação sempre é alterada para inadequada para menores de 10 anos. A última justificativa apresentada para reclassificar "A Vida da Gente", atual trama das seis, foi a de que a novela apresenta "conteúdos angustiantes". A novela pode até tratar de temas sérios, mas está longe de angustiar alguém, porque tudo é tratado de forma delicada e sutil pela autora Lícia Manzo, que não apresenta nada que não seja permitido para o horário. A nova novela das seis, "Amor, Eterno Amor" será livre para todos os públicos no começo, mas com certeza será reclassificada para maiores de 10 depois de alguns capítulos.
As novelas das sete também não escapam da vigilância. A última novela a ser reclassificada, foi "Aquele Beijo". Mesmo as novelas das nove, que são as que tem mais liberdade para mostrar cenas mais "fortes" e abordar temas polêmicos, estão bem mais comedidas ultimamente, porque também não estão livres de sofrerem uma reclassificação.
Quando uma novela é reclassificada, percebemos que os autores ficam ainda mais cautelosos com relação ao que escrevem, com medo de que a novela seja reclassificada novamente, ou seja, além da pressão que os autores já sofrem das emissoras com relação a audiência, e do público, que deseja sempre boas histórias, ele ainda é pressionado pelas regras da classificação indicativa. "Não pode isso", "não pode aquilo"... O preocesso de criação das histórias é muito limitado e prejudicado por causa disso.
Os absurdos dessa classificação ficam mais evidentes ainda quando assistimos as reprises de novelas exibidas na década de 1990, quando a liberdade de criação era muito maior. "Mulheres de Areia", que foi exibida originalmente às seis da tarde tem uma abertura sensual, onde uma mulher toma banho nua nas águas do mar. Essa reprise de 2011 e 2012 teve a abertura refeita, de modo a diminuir um pouco a nudez, o que a deixou muito desfocada e diminuiu muito a sensualidade da abertura original. A Globo preferiu modificar a abertura já temendo uma reclassificação da novela, alegando que as cenas de nudez eram impróprias para serem exibidas à tarde, mas na primeira reprise da novela em 1996, a abertura foi mostrada normalmente e ninguém ficou "chocado", até porque não tem como alguém se chocar com uma simples abertura de novela. Ainda em "Mulheres de Areia", várias cenas que foram exibidas normalmente em 1993, tiveram que ser cortadas ou reduzidas para se adequar às novas regras. E é claro que a novela também foi reclassificada como imprópria para menors de 10 anos. E um exemplo que lembra muito a Censura antiga, é a proibição da reprise de "Páginas da Vida", novela das oito exibida em 2006 que seria a substituta de "Mulheres de Areia", mas teve a reprise impedida de ir ao ar, mesmo com a Globo se comprometendo a cortar todas as cenas inadequadas para o horário da tarde.
Todos esses exemplos deixam claro que a classificação indicativa é mais conservadora do que o público. Se antigamente uma novela das seis ou das sete podia ter por exemplo, um bom barraco entre duas mulheres, com direito a tapas e puxões de cabelo, hoje pode no máximo um tapa ou dois e sem muita violência, se não quiser correr o risco de levar logo uma advertência do Ministério da Justiça. Por que coisas que podiam ser mostradas há alguns anos, não podem ser mostradas hoje? Isso só deixa as novelas mais caretas, porque vamos combinar que novela sem barraco e sem um tapinha na cara não é novela! E o engraçado é que nas novelas não pode nenhum tipo de violência, mas os telejornais mostram diariamente crimes bárbaros, pessoas consumindo drogras e outras coisas que ninguém pode nem pensar em mostrar numa novela. Os jornais não tem classifcação indicativa e exibem essas notícias em todas as horas do dia. Como é que pode a ficção perturbar mais do que a realidade?
Não estou dizendo que sou contra a classificação indicativa, até a acho importante para sabermos melhor o conteúdo de cada programa que é exibido. Sou contra a intromissão dela, que determina o que pode ou não ser exibido em cada horário. Acho que a classificação deve apenas alertar sobre o conteúdo dos programas. Quem deve decidir se assiste ou não a qualquer programa, é o público.
É claro que não sou a favor que um filme com classifcação para meiores de 16 anos, por exemplo, seja exibido à tarde, ou que uma novela das seis ou das sete apresente cenas adequadas apenas a uma novela das nove, mas devemos confiar no bom senso das emissoras e dos autores. Ninguém melhor do que eles sabem o que é adequado para ser exibido em cada horário da programação. As emissoras e os autores teriam muito mais liberdade e ninguém seria prejudicado. As regras dessa classificação indicativa precisam ficar mais brandas imediatamente!
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Eu concordo com você.Por causa das classificações indicativas,eles acabam re-reprisando as novelas que já foram exibidas como A viagem que foi exibida em 1997 e 2006,Chocolate com Pimenta que foi exibida em 2006 e está sendo exibida agora em 2012,tirando o lugar de outras novelas muito boas,que ainda não tiveram a chance de ser reprisadas como O Profeta,dentre outras.
ResponderExcluirTambém gosto da censura do MP. Quem decide o que assistir são os pais e não um membro do Governo. Acho um absurdo isso. Não sei se essa lei possa voltar como era antes, será que alguma possibilidade?
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