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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O AUTOR MARCÍLIO MORAES: UMA CARREIRA CONSAGRADA NA TV E NO TEATRO



Marcílio Moraes é hoje um dos grandes autores de novelas do Brasil. Formado em Letras, ele pretendia seguir a carreira literária. Começou escrevendo contos e logo estava escrevendo peças de teatro, entre elas, "Sonata Sem Dó" e "Aracelli". A televisão foi um caminho natural. Marcílio foi co-autor de novelas importantíssimas da nossa teledramaturgia, como "Roque Santeiro" (1985) e "Roda de Fogo" (1986). Foi parceiro de Dias Gomes em novelas e minisséries de sucesso, como a já citada "Roque Santeiro", "Mandala" (1987) e "As Noivas de Copacabana" (1991), que será reprisada em breve no Canal Viva. Na Globo, seu maior sucesso como autor-solo é a novela "Sonho Meu" (1993), que foi baseada em duas novelas de Teixeira Filho. Na Record desde 2005, Marcílio já escreveu três novelas na emissora, incluindo o mega-sucesso "Vidas Opostas" (2006), que atingiu índices de audiência nunca antes vistos nas novelas da Record e ficou na liderança várias vezes. O autor também escreveu os seriados policiais "A Lei e o Crime" (2009) e "Fora de Controle" (2012) na Record, e publicou o romance "O Crime na Gávea" (2003). Nessa entrevista exclusiva para o blog, Marcílio Moraes fala sobre sua longa e bem sucedida carreira e relembra alguns de seus trabalhos mais marcantes, entre outras coisas. Confiram:

SUPER TV E MAIS! - Você é formado em Letras. Pensava em escrever para teatro e televisão desde aquela época? O fato de ter cursado Letras ajudou você na hora de escrever suas novelas e peças?

MARCÍLIO MORAES - Meu projeto inicial era literatura. Abandonei a faculdade de Direito e fui fazer Letras com este objetivo.  Meus primeiros trabalhos foram contos. E alguns romances de bang bang, desses vendidos em bancas de jornal, escritos sob pseudônimo,  para ganhar um dinheirinho.

Depois, durante alguns meses, fiz crítica teatral no Jornal do Commercio, o que me estimulou a escrever uma peça. Chamava-se “Só Engorda Quem Negocia”. Um grupo de alunos da Escola de Teatro se interessou e começamos a montar o espetáculo. Mas aquela era uma época cruel. O texto foi sumariamente proibido pela Censura Federal. Para não perder tudo, escrevi com o grupo um espetáculo baseado nas experiências deles próprios, chamado “O Ator Cara de Bolacha”.

Por sorte, logo em seguida, ganhei um prêmio nacional com a peça: “A Vaca Metafísica”. E aí começou minha carreira como dramaturgo profissional.

Ter cursado Letras, embora eu tenha sido um péssimo aluno – basicamente só fiz política na faculdade – sempre me ajudou muito,  porque eu li e estudei algumas obras fundamentais para quem se dedica à arte.

SUPER TV E MAIS! - O que você destaca da experiência de ter feito parte da equipe de autores de "Roque Santeiro", uma das novelas de maior audiência da TV brasileira? Acompanhou a reprise da novela ano passado no Canal Viva?

MARCÍLIO MORAES - “Roque Santeiro” foi minha primeira novela. Tremenda sorte ter sido convidado pelo Dias Gomes para ser colaborador. Foi lendo os primeiros 51 capítulos escritos por ele que aprendi o que era uma novela de qualidade. São uma verdadeira obra prima.

Acompanhei a reprise da novela ano passado no Canal Viva. Foi muito bacana rever tudo aquilo, reconhecer os capítulos que escrevi, 30, na verdade, identificar ideias e intervenções minhas ao longo dos meses em que escrevemos a obra.

"Roque Santeiro" (1985): um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira


SUPER TV E MAIS! - Outra novela de grande sucesso que você escreveu na Globo e que eu tenho muita vontade de assistir é "Sonho Meu" (1993). Que recordações você guarda dessa novela, que infelizmente nunca foi reprisada?

MARCÍLIO MORAES - “Sonho Meu” foi uma novela interessante. Parti de dois textos do Teixeira Filho, “O Ídolo de Pano” e “A Pequena Órfã”. Mas eu não quis fazer um remake. Então juntei as duas ideias de maneira a criar uma trama original.

Foi um tremendo sucesso. Em toda a década de noventa, só uma novela bateu “Sonho Meu” em audiência: “Mulheres de Areia”, da Ivani Ribeiro.

Só para exemplificar, no primeiro capítulo, a novela deu 53 pontos de média, às seis horas da tarde. Porque nunca foi reprisada é um daqueles muitos mistérios globais.

Patrícia França e Leonardo Vieira foram os protagonistas de "Sonho Meu" (1993), grande sucesso do horário das seis


SUPER TV E MAIS! - Em 1995 você foi um dos autores do remake de "Irmãos Coragem", que não não repetiu o sucesso da versão original. Como foi trabalhar nessa novela? Você acha que a história era inadequada para o horário das seis?

MARCÍLIO MORAES - O que aconteceu foi que a história perdeu o vigor que tinha em 1969, quando foi apresentada pela primeira vez. Naquela época, estávamos em plena ditadura e o movimento guerrilheiro se expandia. De forma que os heróis da novela, os mineiros escondidos nas montanhas combatendo o poder autoritário da cidade, eram inconscientemente identificados como os guerrilheiros pelo público. Em 95, quem estava nas montanhas combatendo com armas na mão a polícia eram os traficantes...

Esta foi uma das razões – o horário também pode ter contribuído – do remake não repetir o sucesso da primeira exibição.

Marcílio foi um dos autores do remake de "Irmãos Coragem" (1995)


SUPER TV E MAIS! - Das minisséries que você participou como co-autor na Globo, qual você destacaria?

MARCÍLIO MORAES - A minissérie mais prazerosa que escrevi na Globo foi “Noivas de Copacabana”.  Uma trama policial, coisa que gosto de fazer, inteligente, sofisticada e que deu totalmente certo.

Sem falar nos companheiros de escritura, o poeta Ferreira Gullar e o Dias Gomes, grandes amigos.


Fotos das minisséries "As Noivas de Copacabana" (1992), "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1998) e "Chiquinha Gonzaga" (1999)


SUPER TV E MAIS! - Você está na Record desde 2005, onde assinou as bem sucedidas novelas "Essas Mulheres" (2005), "Vidas Opostas" (2006) e "Ribeirão do Tempo" (2010). Como você analisa a sua trajetória na emissora?

MARCÍLIO MORAES - Vejo minha trajetória na Record de forma muito positiva. A primeira novela que escrevi lá, “Essas Mulheres”, não teve uma audiência muito grande, mas angariou enorme prestígio junto à imprensa, à crítica e a um público sofisticado.



“Vidas Opostas”, que fiz a seguir, obteve enorme repercussão. Não tenho dúvidas em afirmar que foi a novela da Record que mais repercutiu até hoje: críticas, teses universitárias, artigos, comentários, prêmios, tudo que de favorável uma novela pode ter. Além, é claro, da audiência excepcional. Para ficar apenas num exemplo, o último capítulo da novela cravou 25 pontos de média em São Paulo e 29 no Rio. A maior audiência obtida por uma novela da Record em todos os tempos.



Depois fiz “Ribeirão do Tempo”, obra em que me arrisquei mais, construindo uma trama crítica, ácida, de cunho político, e sem concessões aos lugares comuns tão repetidos nas novelas. A audiência foi apenas média e a repercussão, a meu ver, esbarrou em fortes preconceitos políticos, que não cabe aqui discutir.



SUPER TV E MAIS! - Além dessas novelas, você escreveu o seriado "Fora de Controle", que também teve boa repercussão. É verdade que a série não terá uma nova temporada?

MARCÍLIO MORAES - Antes de “Fora de Controle”, eu tinha escrito o seriado “A Lei e o Crime”, na Record, em 2009.  Foram 21 episódios. Teve excelente audiência e grande repercussão, não só na imprensa mas também no meio acadêmico. Uma pena não ter havido uma segunda temporada.

“Fora de Controle” foi uma experiência um pouco diferente. A produção era independente, da Gullane Filmes, de São Paulo, com apoio da Record. Teve apenas quatro episódios, cuja exibição repercutiu muito bem, embora a audiência não tenha sido alta. Infelizmente, também não haverá uma segunda temporada, apesar da vontade da Gullane em produzi-la e do interesse internacional despertado pela série.

Fotos das séries "A Lei e o Crime" (2009) e "Fora de Controle" (2012)


SUPER TV E MAIS! -  Fale um pouco sobre como funciona a Associação dos Roteiristas - AR e de seu trabalho lá.

MARCÍLIO MORAES - Não sou mais o presidente da Associação dos Roteiristas. O atual presidente é o Newton Cannito.  Hoje faço parte do Conselho da entidade e presido uma comissão dedicada aos Direitos Autorais.

O grande objetivo da Associação dos Roteiristas é lutar pelo reconhecimento do valor inestimável do autor-roteirista no audiovisual. Este valor, embora bastante reconhecido na televisão brasileira, é negligenciado no cinema nacional.

Quer dizer, a AR se empenha em dar ao autor-roteirista a dignidade profissional que ele merece.

SUPER TV E MAIS! - Você tem preferência por alguma das novelas que escreveu?

MARCÍLIO MORAES - Gosto de todas, mesmo as mais polêmicas, como “Mandala”. Mas tendo que escolher, ficaria com “Vidas Opostas”.

Marcílio Moraes foi co-autor das novelas "Roda de Fogo" (1986), "Mandala" (1987) e "Mico Preto" (1990)

SUPER TV E MAIS! - E de outros autores? Quais são as novelas que mais te marcaram? Há alguma da qual você gostaria de escrever um remake, se surgisse oportunidade?

MARCÍLIO MORAES - Meu mestre, se é que tive algum,  foi o Dias Gomes. Em geral, não gosto de remakes, mas lendo que o Ricardo Linhares vai reescrever “Saramandaia” senti uma ponta de ciúmes... rs.

SUPER TV E MAIS! - Muitos consideram a atual classificação indicativa uma espécie de censura disfarçada, embora esteja longe de ser tão rígida quanto a antiga censura. O que você acha dessa classificação?

MARCÍLIO MORAES - O problema da classificação indicativa é ser obrigatória e vinculada a horários. Como autor de novelas,  eu sei perfeitamente o que é e o que não é adequado ao meu público. Não preciso que nenhum burocrata do governo me diga o que escrever.

Abertura de "Sonho Meu"


SUPER TV E MAIS! - Muitos reclamam da longa duração das novelas e lutam para que elas sejam mais curtas. Até a Record, que costumava ter tramas bem longas, está investindo em histórias mais curtas. O que você pensa sobre isso? Acha que novelas mais curtas diminuem as chances do público cansar da história?

MARCÍLIO MORAES -  Todo mundo que escreve novelas gosta da ideia de obras mais curtas. Mas a verdade é que, quando uma novela é bem sucedida, suporta bem um número grande de capítulos. Não um número desproporcional, claro. Duzentos, no máximo.

Por outro lado, se a novela não for boa, 100 capítulos já podem ser demais.

E ainda há o caso de novelas que começam mal e depois se aprumam, terminando como grandes sucessos.

A conclusão é aquela velha verdade: tamanho não é documento.

Abertura de "Vidas Opostas"

SUPER TV E MAIS! - Que conselhos você daria para quem sonha escrever para teatro, cinema ou televisão?

MARCÍLIO MORAES - Ler os grandes clássicos da literatura universal.

SUPER TV E MAIS! - Para terminar, quando estreia sua próxima novela na Record? Você já pensou na história?

MARCÍLIO MORAES - Ainda não me deram previsão. Apesar disso, tenho algumas histórias armadas.

Meus agradecimentos ao Marcílio pela ótima entrevista para o blog!

Para saber mais sobre Marcílio Moraes, clique aqui e entre no site oficial dele.  Lá, vocês encontrarão um material bem interessante sobre a vida e as obras do autor.




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