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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ENTREVISTA EXCLUSIVA - WALTHER NEGRÃO: "NÃO ME PREOCUPO EM RENOVAR, MAS EM CONTAR UMA BOA HISTÓRIA"


Walther Negrão é um dos ícones da TV brasileira. Sua carreira na televisão começou em 1958, quando fazia figuração em tele-peças. Em 1959 escreveu sua primeira tele-peça e não parou mais. Virou autor de novelas ainda na década de 1960 e começou  a fazer ainda mais sucesso ao escrever com Geraldo Vietri as clássicas novelas "Antonio Maria" (1968) e "Nino, o Italianinho" (1969). Walther está há muitos anos na Globo e já passou por emissoras como Tupi, Record, Bandeirantes e Cultura. Ele é o segundo autor que mais escreveu novelas no Brasil (entre novelas-solo e trabalhos de co-autoria e supervisão foram quase 40) e perde apenas para Ivani Ribeiro. Entre os grandes sucessos de Walther Negrão estão novelas que marcaram a história da TV, como "O primeiro Amor" (1972), "Pão-Pão Beijo-Beijo" (1983), "Livre Para Voar" (1985), "Despedida de Solteiro" (1992) e muitas outras. Atualmente ele escreve "Flor do Caribe", a próxima novela das seis, que estreia em março. Nessa entrevista exclusiva para o blog, Walther relembra alguns momentos de sua vasta carreira, revela que não pretende parar de escrever nunca, elege seus trabalhos preferidos (e um que ele não gostou tanto) e fala, claro, sobre sua nova novela. Me sinto honrado de publicar essa entrevista com esse grande autor e tenho certeza que todos vocês vão gostar muito. Confiram a entrevista:

SUPER TV E MAIS! - Você é jornalista e começou na televisão fazendo pequenas pontas como ator no "Grande Teatro Tupi", em 1958. Como foi a sua trajetória desde a época em que trabalhava como jornalista até chegar à televisão? Era algo que você já planejava?

WALTHER NEGRÃO - Na verdade, eu era figurante na TV Tupi em 1958. Mas fui fazer teatro como ator e conheci algumas pessoas que me deram força: os diretores Ademar Guerra, Antunes Filho e o ator Armando Bogus. Com o apoio deles escrevi minha primeira tele-peça para o grande teatro tupi, que se chamava “Quadro Sem Moldura”. Foi exibida em dezembro de 1959 e dali em diante não parei mais de escrever para TV. Uma curiosidade: nessa minha primeira peça estreou na TV de São Paulo um grande ator e desde então um grande amigo, o Francisco Cuoco!


SUPER TV E MAIS! -  Você colaborou com Geraldo Vietri nas novelas "Antonio Maria" (1968) e "Nino, o Italianinho" (1969). Depois finalizou "A Cabana do Pai Tomás" (1969) e logo depois escreveu "A Próxima Atração" (1970), sua primeira novela-solo na Globo. Você já imaginava que fosse virar autor de novelas? Como foi o convite para escrever novelas?

WALTHER NEGRÃO - Naquela época não existia a figura do “colaborador”, apenas do “parceiro” ou “co-autor”. Não me considero “co-autor” de "Antonio Maria" porque entrei para escrever já no capítulo 30. Mas em “Nino, o Italianinho” participei desde o inicio e me sinto à vontade para dizer que sou também autor da novela. Por meu trabalho em “Antonio Maria”, Sergio Cardoso me pediu para terminar a novela “A Cabana do Pai Tomás” na Globo. Escrevi apenas os últimos 19 capítulos e fui chamado em seguida para fazer “A Próxima Atração”. Escrever novelas foi o meu caminho natural quando elas apareceram e os teleteatros sumiram da TV.


"Antonio Maria" (1968), "Nino, o Italianinho" (1969) e "A Próxima Atração" (1970)

SUPER TV E MAIS! -  Em novelas como "As Três Marias" (1980) e "O Amor é Nosso" (1981), que não eram de sua autoria, você foi chamado para reformulá-las por causa da baixa audiência. É difícil entrar na novela de outros autores e fazer mudanças nas histórias? Quais as principais dificuldades que você teve?

WALTHER NEGRÃO - Desde “A Cabana do Pai Tomás” não parei mais de ser chamado para botar nos trilhos algumas novelas que apresentavam problemas. Usava-se, então, uma expressão americana pra essa função: “play-doctor”. Mas eu preferia me intitular “meia-sola”, numa referência aos sapateiros que fazem reformas. Até que o Chico Anísio me botou um apelido que me honra muito: “Negrão do pastoreio”. Dificuldades nunca encontrei, porque pior do que estava não podia ficar...


"A Cabana do Pai Tomás" (1969), "As Três Marias" (1980) e "O Amor é Nosso" (1981): novelas que contaram com o reforço de Negrão

SUPER TV E MAIS! -  Há muitas diferenças entre escrever uma novela das seis, sete ou das oito? Você, que já escreveu para os três horários tem preferência por algum deles? 

WALTHER NEGRÃO - Minha preferência hoje é pelo horário das seis. E são três as razões pra isso: trabalha-se muito menos porque são mais curtas, a cobrança e a responsabilidade são menores e ganha-se a mesma coisa.

SUPER TV E MAIS! -  "Cavalo de Aço" (1973) foi sua única novela das oito até hoje. As outras foram exibidas nos horários das seis e sete. Você já teve vontade de escrever novamente para esse horário em virtude da facilidade de abordar assuntos polêmicos com mais liberdade?

WALTHER NEGRÃO - Tenho trauma com novela das oito, desde que fiz “Cavalo de Aço”. Apesar de ter sido um sucesso gratificante, sofri muito com a censura da época. Fui obrigado a mudar o rumo da história cinco vezes em função disso. Hoje, talvez por ser um desafio maior, prefiro escrever para as 18 hs.


Tarcísio Meira e Betty Faria em "Cavalo de Aço" (1973)

SUPER TV E MAIS! -  Você é autor de minisséries de sucesso, como "O Sorriso do Lagarto" e "A Casa das Sete Mulheres", com Maria Adelaide Amaral. Pensa em escrever mais minisséries?

WALTHER NEGRÃO - Escrever minisséries é o sonho da maioria dos autores: um produto menor, com grande visibilidade e chance de experimentação. Então, claro que penso em voltar a escrever minissérie.


Minisséries "O Sorriso do Lagarto" (1991) e "A Casa das Sete Mulheres" (2003)

SUPER TV E MAIS! -  Você é um dos autores que mais escreveu telenovelas no Brasil. É difícil depois de tantos anos de carreira continuar se renovando sempre? Já teve vontade de se aposentar alguma vez ou quer continuar escrevendo sempre?

WALTHER NEGRÃO - Dos autores vivos sou mesmo o que mais novelas escreveu. Não me preocupo em renovar, mas em contar uma boa história. E vou continuar escrevendo até quando deixarem. Pra isso me baseio muito no exemplo de meu pai, que se aposentou ainda jovem e morreu pouco tempo depois.


SUPER TV E MAIS! -  Quais são os seus trabalhos preferidos na televisão, os que te deram mais alegria? Há algum com o qual você não tenha ficado plenamente satisfeito?

WALTHER NEGRÃO - Meu trabalho preferido, sem dúvida, é “O Primeiro Amor” (1972), a novela onde surgiram Shazam e Xerife, personagens que depois ganharam um seriado. Tenho carinho especial por “Cinderela 77” (1977), novela em parceira com meu amigo e mestre Chico de Assis, na TV Tupi. Além dessas “O Direito de Amar” (1987), “Pão-Pão, Beijo-Beijo” (1983), “Fera Radical” (1988) e “Top Model” (1989) em parceria com Antonio Calmon, também moram no meu coração. Não gostei de ter feito “Super-Manoela” (1974), na TV Globo. Hoje a citam como sucesso, talvez pelo titulo forte e interessante, no entanto foi um fracasso!


Fotos das novelas "O Primeiro Amor" (1972), "Cinderela 77" (1977)...

..."Super-Manoela" (1974) e "Pão-Pão Beijo-Beijo" (1983)

SUPER TV E MAIS! -  Como você se sentiu quando "Araguaia" foi indicada ao Emmy de melhor novela? Esperava que isso fosse acontecer?

WALTHER NEGRÃO - Me senti surpreso. Quase nunca ganho prêmios, nem mesmo sou indicado para eles. E, desses poucos, o prêmio que mais me honrou foi o de autor-revelação por minha primeira peça, “Quadro Sem Moldura”, de 1959. Um prêmio dado pela jornalista Liba Friedman que me chegou quando eu tinha apenas 18 anos de idade.


"Direito de Amar" (1987), "Fera Radical" (1988)...

..."Top Model" (1989) e "Araguaia" (2010)

SUPER TV E MAIS! -  Como você analisa a sua trajetória de novelista até hoje?

WALTHER NEGRÃO - Analiso como um constante aprendizado. Nem mesmo sei se já sou um novelista pronto. Agora mesmo aprendi muito com o jovem João Emanuel Carneiro ao assistir “Avenida Brasil”. Sua ousadia e sua capacidade de prender o publico são exemplares!

SUPER TV E MAIS! -  Como você define "Flor do Caribe" e quais as suas expectativas para essa nova novela, que estreia em março, no horário das seis?

WALTHER NEGRÃO - A expectativa é muito boa, estou encantado com o elenco, com a direção, com o diretor de fotografia, com a equipe toda. E diria que é uma novela “solar”, com belo visual, grandes atores e muita... muita gente bonita.


Grazi e Henri viverão o casal principal de "Flor do Caribe", próxima novela das seis

SUPER TV E MAIS! - Grazi Massafera e Henri Castelli serão os protagonistas Ester e Cassiano. Você pensou nos dois desde o início para a novela? 

WALTHER NEGRÃO - Sempre que puder pensarei nesses dois. o Henri estava disponível e foi fácil convencê-lo a participar. Já a Grazi, tinha dado à luz sua linda Sofia, achei que ia preferir curtir a filhota. Mas – pra sorte nossa – ela leu a sinopse e aceitou na hora. Muito bom voltar a trabalhar com a Grazi depois do maravilhoso trabalho que ela fez em minha novela “Desejo Proibido” (2007).


Henri Castelli (Cassiano), Grazi Massafera (Ester) e Igor Rickli (o vilão Alberto), gravam cenas da novela em Natal, Rio Grande do Norte

SUPER TV E MAIS! -  Em "Flor do Caribe" Suzana Pires, que participou de "Araguaia" como atriz, fará sua estreia como colaboradora. Como tem sido trabalhar com ela?

WALTHER NEGRÃO - Não gosto da palavra “colaborador”. A equipe cria junto, briga pelo melhor sempre. Estamos em pé de igualdade na hora da criação. E, mesmo sendo nova na área telenovela, Suzana traz uma sólida bagagem de escrevinhadora para teatro e para programas de humor. É a mais animada do time, que conta ainda com Julio Fischer, Vinicius Vianna, Fausto Galvão e Alessandro Marson. cada um, a seu modo, acrescenta muito ao trabalho.

SUPER TV E MAIS! -  Classificação indicativa: ela atrapalha a liberdade de criação dos autores (principalmente numa novela das seis) ou você não enfrenta nenhum tipo de dificuldade com isso?

WALTHER NEGRÃO - Para quem encarou a censura durante tantos anos da ditadura militar, essa classificação é brincadeira de criança.


Negrão e a talentosa atriz e roteirista Suzana Pires, que está na equipe de autores de "Flor do Caribe"

SUPER TV E MAIS! -  Em época de internet e TV por assinatura ficou mais difícil segurar o público em frente à TV? Como você lida com essa questão da audiência?

WALTHER NEGRÃO - Quem escreve novela das seis sempre enfrentou dificuldade de segurar o publico diante da TV. Nesse horário, além dos novos interesses de hoje, sempre encaramos um público flutuante pela casa. Gente que sequer senta para prestar atenção à novela. Este é bem mais difícil de conquistar do que aquele público que janta e relaxa diante da TV enquanto faz a digestão antes de ir pra cama.

SUPER TV E MAIS! -  Muito obrigado pela entrevista, Walther. Para terminar, deixe seu convite para o público ficar de olho em "Flor do Caribe"!

WALTHER NEGRÃO - Que seja: espero vocês, internautas. Espero principalmente pelos seus comentários que sempre nos sinalizam quando estamos acertando ou errando.





5 comentários:

  1. QUE MÁXIMO:

    SUPER TV E MAIS! - Como você analisa a sua trajetória de novelista até hoje?

    WALTHER NEGRÃO - Analiso como um constante aprendizado. Nem mesmo sei se já sou um novelista pronto. Agora mesmo aprendi muito com o jovem João Emanuel Carneiro ao assistir “Avenida Brasil”. Sua ousadia e sua capacidade de prender o publico são exemplares!

    QUE HUMILDADE E GRANDIOSIDADE EM ADMITIR ISSO!

    SALVE JEC
    SALVE NEGRÃO!

    ANSIOSO POR FLOR DO CARIBE!!!
    ABRAÇO LEANDRO
    PARABÉNS PELA EXCELENTE ENTREVISTA!

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  2. Show de entrevista!
    Muito bom poder ler as experiências de um autor já com tantos anos de estrada, que está neste meio desde os primórdios. Não pude acompanhar as clássicas novelas do Negrão, mas acompanhei na medida do possível, com muito carinho Araguaia. Uma linda novela, com grande elenco (Lima Duarte e Laura Cardoso), e com uma boa história para ser contada. Uma trama sem grandes pretensões, á não ser á de entreter, e isso ela cumpriu com maestria, eu curti. Que venha Flor do caribe!

    Abraço e parabéns pela entrevista.

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  3. SUPER TV E MAIS!- Como surgiu a ideia da novela?

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  4. WALTHER NEGRÃO POR E-MAIL:

    "Leandro, querido...
    imagine que só deu pra ler a entrevista agora, plena madrugada!
    Tá maravilhosaaaa!!!!
    Com poucas (e boas) perguntas, você fez um resumo da minha longa lida.
    Ainda encontrou fotos que nem eu tinha visto.
    Parabéns...
    Beijão e mais uma vez gracias... /Negrão"

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