Hoje o entrevistado do blog é o autor Alcides Nogueira. Paulista da cidade de Botucatu, Alcides é formado em direito, mas seguiu a carreira de dramaturgo. É autor de muitas peças, entre elas, "Feliz Ano Velho", adaptada do livro de Marcelo Rubens Paiva, que foi seu maior sucesso. Na televisão, Alcides começou escrevendo episódios de programas como "Caso Verdade" (1983) e "Joana" (1984). Em 1985 foi colaborador de Walther Negrão em "Livre Para Voar" e no logo depois escreveu sua primeira novela, "De Quina Pra Lua", a partir de um argumento de Benedito Ruy Barbosa. Depois disso não parou mais e escreveu as novelas "O Amor Está No Ar" (1997), "Ciranda de Pedra" (2008) e "O Astro" (2011), como autor principal. Também realizou muitas parcerias com outros autores, como Sílvio de Abreu ("Rainha da Sucata", "A Próxima Vítima"), Lauro César Muniz ("O Salvador Da Pátria"), Gilberto Braga ("Força De Um Desejo") e Maria Adelaide Amaral ("Um Só Coração" e "JK"). Alcides Nogueira é generoso como ser humano e como autor. Ele é muito admirado pela gentileza com que trata a todos e eu sou um dos seus muitos admiradores. Nessa primeira parte da entrevista concedida gentilmente para o "Super TV e Mais", ele fala sobre sua paixão pelo teatro e televisão, de suas primeiras novelas e parcerias com outros autores, entre outras coisas. Confira:
SUPER TV E MAIS! - Você começou sua carreira no teatro escrevendo peças de muito sucesso, como "Lua de Cetim" (1981) e "Feliz Ano Velho" (1983). Quais as principais diferenças de escrever para o teatro e para a televisão? Você tem preferência por um dos gêneros?
ALCIDES - São dois veículos muito distintos, mas gosto de ambos. O teatro é uma celebração. Cada apresentação é única. A novela não acontece em tempo real. É gravada. Mas alcança um número infinitamente maior de pessoas do que o teatro. Mas, de uma forma ou de outra, ambos se complementam. Ao menos no meu caso, isso aconteceu. A televisão deixou o meu teatro mais ágil... e o teatro me deu elementos para buscar uma teledramaturgia mais densa, mais estofada.
Denise Del Vecchio e Elias Andreato em "Lua de Cetim".
SUPER TV E MAIS! - Sua primeira novela, "De Quina Pra Lua" (1985) foi escrita a partir de um argumento de Benedito Ruy Barbosa. Li em alguns sites que você disse que ainda não se sentia totalmente preparado para escrever uma novela e que não ficou satisfeito com o resultado dela. Por que você acha que ainda não estava preparado? Você se arrepende de ter feito a novela?
ALCIDES - Não, não me arrependo de ter escrito "De Quina Pra Lua". Mas não a considero minha primeira novela solo. Da novela, a melhor lembrança é o elenco. Tenho por todos que participaram da novela um carinho muito grande. Realmente eu não me sentia preparado. Ainda precisava de mais tempo como colaborador (que é a grande escola). Ou, talvez, se o argumento fosse meu e eu pudesse "inventar" a história à minha maneira... Não sei exatamente. Mas foi um exercício. Foi um momento que fez parte do meu aprendizado. Como disse um dia à Beth Savala (que fazia a Mariazinha) nós nos divertimos muito.
SUPER TV E MAIS! - Sua novela "O Amor Está no Ar" apesar de não ter sido bem sucedida em audiência, é muito lembrada por abordar vida em outros planetas. Como surgiu a ideia de mostrar extra-terrestres na novela?
ALCIDES - Eu gosto muito de "O Amor Está no Ar" e a considero uma novela subestimada. Talvez ela tenha sido ousada na época. Não por tratar de ETs, mas por abordar o romance entre o a mãe (Betty Lago) e o namorado (Rodrigo Santoro) da filha desaparecida. O ET não era para ser mostrado. Era uma insinuação. Deveria ficar no ar se realmente Luiza (Natália Lage) tinha sido abduzida ou não... e se João (Eriberto Leão) era um alienígena ou um ser humano como todos nós. Mas havia outras tramas muito interessantes: o núcleo judaico, o núcleo circense... Enfim, a novela tinha boas histórias, além de uma trama central forte. A questão da audiência é sempre uma incógnita. Já se passaram quinze anos da estreia, e vejo que muitos blogs se interessam pela novela. Fico feliz com isso.
Natália Lage e Eriberto Leão em "O Amor Está No Ar".
SUPER TV E MAIS! - Você já realizou parcerias em novelas e minisséries com autores como Gilberto Braga, Maria Adelaide Amaral e Silvio de Abreu. Quando se trata de dois autores de estilos diferentes, é difícil adequar o estilo de um ao do outro para dar um tom mais homogêneo ao trabalho?
ALCIDES - As parcerias só dão certo quando os autores possuem uma afinidade bem grande entre si. Tive sorte. Sempre existiu uma sintonia muito fina entre mim e eles (principalmente os que você citou, e também com Lauro Cesar Muniz), o que acaba com o problema de "estilos diferentes".
SUPER TV E MAIS! - Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar em co-autoria? Já aconteceu de você e outro autor discordarem a respeito de alguma coisa?
ALCIDES - Hoje é impensável trabalhar SEM co-autoria. A novela se tornou um produto complexo. Não se trata somente da escrita, mas da administração de uma estrutura muito grande. Isso "rouba" um tempo que deveria ser dedicado à criação. Com uma boa equipe, azeitada, com co-autores e colaboradores afinados entre si, isso fica mais fácil e ágil. Até hoje eu não entrei em choque com ninguém, o que tem sido muito bom. Claro que há discussões, pontos de vista diferentes... Mas tudo faz parte desse processo criativo, que exige muito da equipe toda. Os autores têm a pele muito fina, e, quando criam, os poros abrem ainda mais.
SUPER TV E MAIS! - Você já escreveu vários trabalhos de época e contemporâneos. É verdade que é mais difícil escrever novelas e minisséries de época? Quais as principais dificuldades?
ALCIDES - Eu gosto muito mais de escrever histórias de época, tanto em novelas quanto em minisséries. Acho que remetem o espectador a um clima mais onírico, onde a fantasia impera. E o fato de a ação se passar em determinada época não diminui o enfoque que você pretende dar às tramas. É tudo uma questão de armar as histórias. Por tudo isso, novelas e minisséries de época são mais difíceis de serem escritas. A começar pela pesquisa, que precisa ser rigorosa, para não confundir ou frustrar o espectador.
"Força De Um Desejo" (1999), novela de Alcides Nogueira em parceria com Gilberto Braga.
SUPER TV E MAIS! - "Ciranda de Pedra" é ao lado de "Força de um Desejo", meu trabalho preferido de sua autoria. Adoro o livro e gostei muito da adaptação que você fez, mas li em algumas críticas que a história de "Ciranda de Pedra" é muito forte e densa para o horário das seis da tarde e que talvez a adaptação ficasse melhor em uma minissérie, que é exibida mais tarde, o que permitiria que você abordasse com mais liberdade alguns temas polêmicos que aparecem no romance, como a homossexualidade da personagem Letícia. Você concorda com isso?
ALCIDES - Concordo. O livro da Lygia Fagundes Telles é visceral. Ela verticaliza os conflitos dos personagens. Procurei ser bastante fiel a esse espírito. Mas, mesmo assim, precisei amenizar muitas situações. O horário das 18 não é o mais apropriado para se tratar de eutanasia, suicídio, doenças mentais, homossexualidade etc... Gosto muito do resultado final, mas tenho certeza de que ele seria melhor e mais contundente se a história tivesse o formato de minissérie, exibida em outro horário (o das 23, por exemplo). Quanto a "Força de um Desejo", Gilberto e eu conseguimos diluir os pontos mais complexos, sem perder a fluidez da narrativa.
Ana Paula Arósio, Thammy Di calafiori, Ariela Massoti e Ana Sophia Folch "Ciranda de Pedra" (2008).
SUPER TV E MAIS! - Achei muito bonita a dedicatória que você fez no último capítulo de "Ciranda de Pedra" para a autora do livro, Lygia Fagundes Telles. Você sabe se ela acompanhou a novela, se aprovou a adaptação?
ALCIDES - Lygia e eu somos vizinhos e amigos. Já nos conhecíamos. Sempre tive por ela uma admiração imensa, como autora e como pessoa. Conversamos muito quando eu estava montando a sinopse, mostrei a ela onde mexeria - e quais as razões para isso - e Lygia sempre concordou. Fora que ela é noveleira assumida (rsrs). Isso é ótimo! Durante todo o tempo em que "Ciranda de Pedra" esteve no ar, nós trocamos muitas figurinhas. Se há algo que me deixa feliz foi contar com a cumplicidade da grande dama da literatura brasileira.
Termina aqui a primeira parte da entrevista com Alcides Nogueira. Aguardem a segunda parte, semana que vem, onde ele fala entre outros assuntos, de seus próximos projetos na televisão e no teatro.
Ótima entrevista. Palavras de Tide nunca são demais. Mal posso esperar pela parte 2.
ResponderExcluirExcelente a entrevista, adoro saber mais sobre os autores, e acho interessante a boa vontade deles em dar essa atenção especial, a pessoas como nós que acompanham seu trabalho. Parabéns.
ResponderExcluirhttp://nilsonxavier.blogosfera.uol.com.br/2012/01/11/dercy-de-verdade-palavroes-com-qualidade/
Ótima entrevista, adorei! Espero que tenha algo sobre as minisséries dele com a Maria Adelaide Amaral na próxima...
ResponderExcluirLucas - www.cascudeando.zip.net